REGIÃO
Remédio contra obesidade rara melhora respiração durante o sono e pode beneficiar pacientes com apneia, aponta estudo da USP

Pesquisadores brasileiros identificam efeito positivo da setmelanotida sobre neurônios que controlam a respiração, abrindo caminho para novas terapias contra apneia e hipoventilação
RIBEIRÃO PRETO (SP) – Um medicamento originalmente aprovado para tratar formas raras de obesidade mostrou efeitos surpreendentes em melhorar a respiração durante o sono em testes com animais. A descoberta é de pesquisadores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, em parceria com instituições dos Estados Unidos, e foi publicada na prestigiada revista Journal of Clinical Investigation. A informação é do Roni Paparazzi e Foto: Agência SP.
O estudo analisou os efeitos da setmelanotida, droga que ativa o gene MC4R, relacionado à regulação do apetite e metabolismo. Em camundongos obesos, a substância reduziu episódios de apneia do sono, melhorou a oxigenação e aumentou a ventilação — tudo isso sem necessidade de perda de peso.
“Acreditamos que o medicamento age diretamente em circuitos cerebrais que controlam a respiração, e não apenas no metabolismo”, explica o professor Mateus Ramos Amorim, coordenador do estudo na USP.
🧠 Como a droga atua no cérebro
A equipe descobriu que a setmelanotida ativa neurônios no tronco cerebral, mais precisamente no núcleo retrotrapezoide (RTN) — região responsável por detectar o acúmulo de gás carbônico (CO₂) e ajustar o padrão respiratório. Essa ativação melhorou significativamente a função respiratória dos animais durante o sono.
Além disso, o efeito foi mais intenso nos machos. Nas fêmeas, os benefícios respiratórios foram associados ao aumento do metabolismo, o que indica diferenças biológicas importantes que devem ser consideradas no futuro.
😴 Esperança para quem não tolera o CPAP
Atualmente, a principal forma de tratamento para apneia do sono e síndrome da hipoventilação é o uso do CPAP — um aparelho que mantém as vias respiratórias abertas por pressão positiva. Contudo, cerca de 50% dos pacientes abandonam o tratamento devido ao desconforto.
A setmelanotida surge como uma possível alternativa farmacológica, especialmente para pessoas que não conseguem se adaptar ao aparelho.
“Melhorar a respiração de forma medicamentosa pode ter impacto direto na saúde pública, reduzindo riscos cardiovasculares, hospitalizações e até mortalidade”, ressalta Amorim.
🔬 E agora? O que falta?
Apesar dos resultados promissores, os testes foram realizados apenas em modelos animais. Os pesquisadores agora buscam avançar para os ensaios clínicos com humanos, o que inclui:
- Entender melhor os mecanismos de ação do fármaco;
- Testar a eficácia a longo prazo;
- Determinar a dosagem ideal e possíveis efeitos colaterais.
O grupo da FMRP também estuda o uso da setmelanotida em outros distúrbios respiratórios, como a depressão respiratória causada por opioides e síndromes genéticas de hipoventilação.
📢 Se confirmada em humanos, a descoberta pode marcar um avanço no tratamento de distúrbios respiratórios do sono e oferecer alívio a milhões de pessoas que sofrem com a apneia.