HISTÓRIAS DA NOSSA GENTE
“Eu serei os olhos dele”: a história de amor entre pai e filha que emociona no Dia Nacional do Cego

DE CASTILHO (SP) POR RONI PAPARAZZI – No Dia Nacional do Cego, celebrado neste 13 de dezembro, uma história de amor, adaptação e coragem chama a atenção em Andradina e emociona pela verdade que carrega.
Cláudio Rafael da Silva Filho, de 70 anos, perdeu totalmente a visão após anos enfrentando um glaucoma avançado. A cegueira começou há cerca de 11 anos, quando perdeu a visão de um dos olhos durante uma cirurgia. Pouco tempo depois, veio um golpe ainda mais duro: a morte da esposa.
Sem ela, Cláudio deixou de se cuidar. A doença avançou. Mesmo com buscas por atendimento em Andradina, Rio Preto, Buritama e Penápolis, o quadro só regredia. Após cirurgia de catarata para tentar controlar o glaucoma, a visão foi se perdendo até desaparecer completamente no final do ano passado.
Foi nesse momento que a filha, Renata Rafael da Silva, professora e policial militar, decidiu mudar a própria vida para cuidar do pai.
“No dia em que percebi que meu pai estava realmente perdendo a visão, senti como se o chão tivesse fugido dos meus pés. Mudei totalmente a minha vida por ele. Eu falei pra ele que seria os olhos dele e que nunca o abandonaria.”
👨🦯 O medo, a dor e a aceitação
Para Cláudio, que trabalhou por 34 anos como carteiro, a perda da visão trouxe medo, revolta e um profundo vazio.
“Senti medo, revolta, um vazio enorme. Passei dias tentando entender. Mas depois do choque, veio a aceitação. E junto dela, a gratidão de ter uma filha que não me deixou desmoronar. O sentimento mais forte foi o amor.”
👩👨 Quando os papéis se invertem
Assumir o papel de cuidadora não foi fácil para Renata. Emoções e desafios práticos passaram a fazer parte da rotina.
“O maior desafio foi aceitar que os papéis se inverteram. Aquele homem forte, que sempre soube resolver tudo, agora precisava de mim. Organizar remédios, acompanhar consultas, adaptar a casa… tudo mudou. Mas cuidar dele me tornou mais forte do que eu imaginava.”
Para o pai, aprender a depender da filha foi um processo doloroso, mas transformador.
“No começo doeu. Dói pedir ajuda até para coisas simples. Mas aprendi que depender não é fraqueza. É confiança. Ela faz por amor.”
🌱 Força que não se mede pelos olhos
Mesmo sem enxergar, Cláudio segue encontrando motivos para viver.
“O amor das minhas filhas e dos meus netos. Conversar, sorrir, ouvir música no rádio, sentir a presença da família. Isso me dá força todos os dias.”
Renata resume o maior ensinamento que recebeu do pai:
“Ele me ensinou que força não é gritar. Força é acordar todos os dias agradecendo por estar respirando. Mesmo sem enxergar, ele me mostrou o que realmente importa.”
♿ Inclusão além do discurso
No Dia Nacional do Cego, a história também escancara desafios enfrentados por pessoas com deficiência visual.
“Falta empatia. Falta acessibilidade real nas ruas, nos serviços, no transporte. Mas acima de tudo, falta olhar humano.”, afirma Renata.
Cláudio deixa uma mensagem para quem enfrenta a mesma realidade:
“Não desistam. A vida muda, mas não acaba. É no escuro que a gente descobre novas luzes.”