HISTÓRIAS DA NOSSA GENTE
A Voz que Nunca Silencia: Entrevista com Lucas (PY2TEL), Radioamador, Coordenador Regional da REER-SP e Cabo da PM em Andradina

DE CASTILHO (SP) POR RONI PAPARAZZI – No Dia do Radioamador, celebrado em 5 de novembro, homenageamos homens e mulheres que dedicam tempo, conhecimento técnico e solidariedade para manter viva uma rede de comunicação essencial — especialmente quando tudo a mais falha. Em Andradina e em toda nossa região, o radioamadorismo tem um representante atuante, incansável e respeitado: Lucas, radioamador PY2TEL, Coordenador Regional da REER-SP (Rede Estadual de Emergência de Radioamadores da Defesa Civil) nas regiões Araçatuba (I-9) e Marília (I-11), e também Cabo da Polícia Militar, onde atua como técnico de telecomunicações no 28° BPM/I.
Nesta entrevista exclusiva ao Roni Paparazzi, ele compartilha sua trajetória, explica a importância estratégica do radioamadorismo e relembra uma operação histórica que salvou vidas.
Entrevista — Dia do Radioamador
Lucas, como começou sua relação com o radioamadorismo e o que despertou seu interesse por essa área?
Começou bem cedo, ainda na infância, quando eu via os equipamentos de rádio da minha família e me encantava com aquele aparelho que permitia ouvir alguém do outro lado do mundo. Quando fui para a fazenda onde meu irmão morava, por volta de 1996, deparei-me com transceptores que estabeleciam contato com o escritório em Araçatuba, a mais de 200 km dali. Foi então que descobri essa tecnologia — e desde lá vem sendo uma grande aventura aprender e me aprimorar no radioamadorismo.
Qual é o papel do Radioamador voluntário dentro das operações e da Defesa Civil na nossa região?
Através da REER-SP, iniciamos um trabalho em parceria com a LABRE-SP. Instalamos repetidoras em Andradina (PY2KDT) e Araçatuba (PY2KLF), e a próxima será em Mirandópolis (PY2LMI). Todas elas têm como objetivo atender órgãos de socorro e resgate, criando uma rede crítica de comunicações de emergência, contribuindo diretamente para a proteção de vidas.
De que forma o radioamadorismo contribui em situações de emergência e calamidade pública?
Quando sistemas convencionais colapsam — como telefonia e internet — o radioamador garante uma comunicação independente, autônoma e eficaz. Podemos operar em locais isolados, usando energia própria, levando informações vitais para coordenação de resgate e logística. É uma ponte de comunicação quando o restante do mundo fica em silêncio.
Você poderia citar um exemplo em que o rádio foi essencial para salvar vidas ou agilizar o atendimento de uma ocorrência?
Sim. No desastre climático no Litoral Norte, em fevereiro de 2023, quando deslizamentos destruíram rodovias e o sistema de comunicação entrou em colapso, a REER-SP e a ARRA entraram em ação. Equipes voluntárias instalaram repetidoras, restabelecendo contatos entre equipes de resgate e coordenação. Houve apoio técnico, humanitário e operacional. Essa atuação garantiu salvamento, suporte e reorganização da resposta emergencial — e formou quase 90 novos radioamadores na região posteriormente.
Quais são os principais desafios para manter uma rede de comunicação eficiente entre as cidades da região?
Cobertura territorial, manutenção de repetidoras, interferências, recursos e formação de operadores. Tudo isso, muitas vezes, é feito por voluntários. Deixo meu agradecimento especial ao João Vitor (PU2PXY) e ao Coordenador Regional Aedner (PY2AOK), que são apoio fundamental nessa missão.
Como funciona, na prática, a integração entre os radioamadores e as forças de segurança?
Quando há crise, é criado um Posto de Comando. Cada instituição atua com um representante. Assim, as ações de resgate, policiamento, logística e comunicação acontecem de forma coordenada, rápida e assertiva.
A tecnologia moderna mudou a atuação dos radioamadores?
Sim, mudou — e para melhor. Modos digitais, EchoLink, satélites e sistemas híbridos ampliaram nossa capacidade. Mas o rádio tradicional continua sendo o núcleo essencial, principalmente quando tudo o mais falha.
Que tipo de preparo técnico e ético é necessário para se tornar radioamador?
É preciso realizar avaliação da Anatel, obter o COER e a licença de estação. Há classes, normas e protocolos. Há também valores: respeito, responsabilidade, neutralidade e solidariedade.
Qual é a importância do Dia do Radioamador?
É reconhecer voluntários que entregam o bem sem esperar retorno. Na maior parte das vezes, essas ações são invisíveis, mas são fundamentais.
Como a população pode colaborar?
Apoiando, respeitando e valorizando. O radioamadorismo é um ato de serviço. Cada antena representa uma vida que pode ser salva.
Para encerrar, qual mensagem você deixa neste Dia do Radioamador?
Desejo um excelente dia a todos os radioamadores! Lembro com carinho dos nossos “Silent Keys”, que nos ensinaram tanto e hoje descansam. Que sigamos unidos, fortes e sempre prontos. Mantenha o sinal forte! Nos vemos na frequência! 73!