POLICIAL
Promotor Lincoln Gakyia fala sobre assassinato de ex-delegado e defende legislação antimáfia

O assassinato do ex-delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo, Ruy Fontes, executado em uma emboscada por criminosos fortemente armados na última segunda-feira (15), Praia Grande, gerou forte repercussão no meio jurídico e policial.
Nesta terça-feira (16), o promotor de Justiça Lincoln Gakyia, do GAECO de Presidente Prudente, concedeu entrevista à CNN Brasil e comentou o crime que abalou o estado. Reconhecido por mais de duas décadas de atuação no combate ao PCC, o promotor vive sob escolta armada do BAEP há quase 20 anos devido às constantes ameaças da organização criminosa.
Preocupação com a falta de proteção
Lincoln afirmou estar “absolutamente chocado e abalado” com a morte de Ruy Fontes, com quem trabalhou no passado. Ele lembrou que já havia comunicado pessoalmente ao delegado sobre ameaças vindas de dentro da penitenciária de Presidente Venceslau desde 2006, além de planos mais recentes do crime organizado para assassinar autoridades do estado.
“Eu mesmo comuniquei ao Dr. Ruy pelo menos três vezes sobre ameaças. No ano passado tivemos informações de que havia um plano para matar algumas autoridades, e ele estava nessa lista. Na época, me disse: ‘o senhor ainda tem escolta, eu, aposentado, não posso contar com isso’”, relatou o promotor.
Defesa de legislação antimáfia
Durante a entrevista, Lincoln destacou a necessidade de uma legislação federal que garanta proteção permanente a autoridades que atuam no enfrentamento ao crime organizado — não apenas durante o exercício do cargo, mas também após a aposentadoria.
“Precisamos de uma legislação que permita ao policial, promotor, juiz, desembargador, oficial da Receita ou qualquer autoridade ameaçada ter uma segurança armada assegurada, como é o meu caso. Não podemos depender apenas da boa vontade de governos de plantão”, afirmou.
O promotor citou que colaborou na elaboração de um anteprojeto de lei antimáfia, já em análise no Ministério da Justiça, que prevê não só a proteção de autoridades, mas também de testemunhas e vítimas ameaçadas pelo crime organizado.
Possível retaliação
Apesar de destacar que ainda é cedo para afirmar a autoria do crime, Lincoln apontou que há indícios de envolvimento do crime organizado.
“Existe sim grande possibilidade do PCC estar por trás deste homicídio bárbaro. Se isso se confirmar, será a crônica de uma morte anunciada”, disse o promotor.
O secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, já confirmou que dois suspeitos foram identificados, sendo um deles ligado ao crime organizado.
Fim de carreira sob risco
Próximo da aposentadoria, Lincoln afirmou não saber se conseguirá seguir uma nova carreira fora do Ministério Público sem uma lei que lhe assegure proteção.
“Estou na última quadra da minha vida profissional. Ano que vem completo os requisitos para aposentadoria, mas não sei se será possível me afastar. Sem legislação específica, eu posso ser abandonado à própria sorte, assim como aconteceu com o Dr. Ruy”, concluiu.