ENTRETENIMENTO

CRÔNICA Raízes na “Velha Senhora” (1953-2023)

Por Disnei Ferreira Rodrigues *

Vamos ao puro saudosismo em homenagem aos 70 anos de Castilho comemorado neste 10 de agosto de 2023.

Junho de 1940. Chegamos! É o que relata a “arqueóloga” familiar –  sempre precisa nestas histórias – tia paterna Deraldina Rodrigues Neves, 86 anos de idade, dos quais 83 nestas plagas, desde os remotos tempos da Vila Cauê, quando aqui estabelecemos residência, advindos pela antiga estrada de ferro Noroeste do Brasil.

Só um aparte, merecido, a ela. Como ama esta cidade! Um arquivo vivo! Adora relembrar histórias do município e exercer sua cidadania. Faz questão de votar, mais ardorosamente quando das eleições municipais. Veste-se com pompa pra exercer seu direito, embora já desobrigada. O voto, como sabido, é facultativo aos maiores de 70 anos.  

A “arqueóloga” já me detalhou quando ouviu, no longínquo 30 de dezembro de 1953, o anúncio no antigo alto falante na Praça da Matriz a alvissareira notícia da sanção da Lei Estadual nº 2.456 emancipando Castilho, tornando-o, derradeiramente, um município independente da Comarca de Andradina.

Foi imensa festa para os orgulhosos desbravadores, ela contou. Rojões pipocaram! A praça estava lotada, em polvorosa. Foram anos de luta, caminhões em estrada de terra, poeira ou lamaçal, em direção à Câmara Municipal de Andradina para manifestar desejo pela emancipação.

Meu avô chegou a arrancar meu pai ainda pré-adolescente da caçamba de um caminhão que iria a Andradina para o levante castilhense. Era muito pequeno na visão dele – meu avô – para que seu rebento fosse participar da vida política do então distrito.  

Dias destes, meu pai recordou do plebiscito posto aos primeiros cidadãos em 1953, anterior à norma paulista, que definiria nosso destino como município. Resultado acachapante: 220 votos pelo “sim”, contra 2 “não”. Todo mundo da então aldeia queria saber quem eram os dois moradores que votaram contra a almejada cisão administrativa e territorial.

Os avós paternos foram os primeiros. Desembarcaram na estação “Alfredo de Castilho” naquele outono/inverno (e lá temos frio nesta tórrida região?) de 1940 para fincarem raízes eternas no lugar que afirmamos sempre: “Estamos no melhor planeta do Universo, no melhor país deste planeta, no melhor Estado deste país, e na melhor cidade deste Estado.”

Como é bom ter raízes, e a ver placa na Marechal Rondon informando a distância para chegar a Castilho. A começar pela saída de Araçatuba, lá está: Castilho 119 km. Opa! Estamos chegando em casa! Castilho à vista, graças a Deus!

Há mais de duas décadas ressaltei a uma pessoa: Sou bairrista! Ela me questionou: o que é bairrismo? É o apego sentimental ao seu lugar, à sua terra, à sua cidade. Errado? Cada um pensa com o seu DNA.

Ao título desta crônica, o devido crédito: dos impecáveis textos “Cartas à Velha Senhora”, do saudoso professor de Direito Penal Jorge Napoleão Xavier, uma mente privilegiada, culto, carismático e simplório que escrevia semanalmente no jornal “Folha da Região” em Araçatuba – onde trabalhei por anos – quando ele sempre escrevia todo 2 de dezembro sobre o passado (pessoas e lugares) de sua amada cidade no aniversário dela.

O encontrava no espaço do café do jornal e ele sempre perguntava: “Como vai, Castilho?”. Meu torrão natal havia se transformado no meu nome.

Vila Cauê foi uma denominação, segundo informações, até 1944, quando o então distrito de Andradina, ganhou a denominação “Alfredo de Castilho”, em homenagem ao antigo engenheiro-chefe da construção da estrada de ferro.

Quer saber o porquê nosso município foi denominado Castilho? No site oficial (castilho.sp.gov.br) consta a história, que obtive de uma carta publicada por um historiador de Bauru-SP na Folha da Região. Meu dever, como nato, para a memória local, para todo o sempre, torná-la pública.

E ainda nos idos de 1945-1947 também chegaram aqui meus avós e tios-avós maternos para contribuírem com a povoação desta urbe.   

Sempre disse aos meus: ainda bem que eles (avós) escolheram esta terra para viver eternamente. Digo por aí: “Castilho não é somente minha cidade natal, mas sim meu país”. Sim, a pátria é o túmulo dos antepassados.

Das chácaras deles nos cantos do bairro Laranjeiras para a antiga rua Ovídio Miranda (hoje Nagib Muhana Zhar), ainda sem pavimento, onde por centenas de dias jogamos futebol com os amigos da infância. Não vou citar nomes para não ser injusto com nenhum deles por eventual esquecimento.

Enfim, cada qual com seus sentimentos de bairrismo, sejam eles por quaisquer motivos. Os meus, incontáveis.

Nestes 70 anos de emancipação, rendamos todas as homenagens aos pioneiros (in memoriam) que enfrentaram as agruras daqueles tempos com destemor e àqueles que nasceram ou não aqui, ficaram ou foram, mas se orgulham e defendem seu nome.

As cidades são feitas, construídas em cada tijolo, pelas pessoas que nelas vivem ou viveram.

Sem pieguice, mas orgulho da minha cédula de identidade: “Naturalidade: Castilho-SP”.

A nossa cidade é sempre a melhor cidade!

Post scriptum: Os 70 anos são de emancipação, mas há notícias que os primórdios de Castilho, as primeiras casas, remontam a 1934. Também uma homenagem especial à Escola Estadual Armel Miranda, primeira escola de Castilho e berço estudantil da grande maioria familiar.

*Advogado, jornalista, professor habilitado de Língua Portuguesa, Sociologia e Filosofia.

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Rua Osório Junqueira , em frente à Praça da Matriz. Foto Reprodução anos 40/50.

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