REGIÃO

Bom Prato contorna inflação com oferta de refeição a 1,00 

O Brasil está de volta ao Mapa da Fome das Nações Unidas. Um país entra na estatística quando mais de 2,5% da população enfrenta falta crônica de alimentos. No Brasil, a situação é mais grave que a da média mundial, 4,1% dos brasileiros têm dúvida quanto à próxima refeição.   

Josué de Castro, brasileiro notável indicado duas vezes ao prêmio Nobel da Paz, dedicou sua vida a estudar a fome. Em 1946, publicou Geografia da Fome, apontando a verdadeira causa da tragédia. Provou que a fome no País é causada pela má distribuição dos alimentos. O Brasil sempre foi um grande produtor e exportador de comida. Falta distribuir melhor essa nossa riqueza.   

Nos últimos 12 meses, a cesta básica aumentou 23,97%. Um levantamento do Procon-Dieese revelou que o preço das refeições fora de casa subiu 23,76%. Um salto de R$ 57,12 para R$ 70,69 o quilo. Sem contar o aumento no gás de cozinha, 50% em dois anos. Em outras palavras, quando o assunto é comida, os brasileiros estão cada vez mais em privação.    

Para o economista Ricardo Paes de Barros, um dos formuladores do Bolsa Família, a alta dos alimentos vai mudar o mapa da fome no Brasil. No meio urbano, o crescimento deve ser maior que o do rural, pois a agricultura familiar, segundo ele, é muito forte. “Para os pobres que vivem de produzir alimentos, a alta de preços seria positiva. Quem entra pelo cano é o pobre urbano que vai ver o preço da cesta básica subir acima da sua capacidade de compra”.  

O Programa Bom Prato do Governo do Estado de São Paulo, com 22 anos de existência, já serviu mais de 311 milhões de refeições, sempre a R$ 1,00, desde a sua criação. Além do café da manhã a R$ 0,50. Mesmo com a inflação dos alimentos, o governador Rodrigo Garcia manteve o preço da refeição em R$ 1,00. O programa é uma política pública de combate à fome estimada em mais de R$ 661 milhões, até o momento.  

Servir mais de 120 mil refeições todos os dias não é tarefa trivial, exige o trabalho de mais de mil colaboradores, coordenados por nutricionistas, para oferecer refeições de qualidade, balanceadas entre proteínas, carboidratos, vegetais e frutas.   

A partir da pandemia da Covid-19, em 2020, pessoas em situação de rua passaram a contar com refeições gratuitas nos restaurantes do Bom Prato, somando mais de 2 milhões de refeições distribuídas até o momento.  

O Bom Prato é um programa em expansão e até o final do ano serão entregues mais oito unidades fixas. Outras 10 unidades móveis entraram em operação no final de agosto. A cargo da secretaria de Desenvolvimento Social, o programa é uma parceria entre o governo de São Paulo e as prefeituras, que são responsáveis desde a indicação de imóveis para implantação das unidades, como a identificação de beneficiários e cadastramento das pessoas em situação de vulnerabilidade.  

Uma pena Josué de Castro não estar vivo para ver as 126 mil refeições servidas todos os dias pelo Governo do Estado de São Paulo. O Bom Prato é a resposta para o problema da fome que nosso ilustre brasileiro apontou: comida de qualidade, servida onde e para quem precisa dela.   

Laura Müller Machado é secretária de Desenvolvimento Social do Estado de São Paulo e professora do Insper.

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