REGIÃO
Terapia com células-tronco mostra potencial para tratar diabetes tipo 1, mas especialistas pedem cautela

Um estudo conduzido por pesquisadores do Hospital Geral de Toronto, em parceria com a Universidade da Pensilvânia, deu um passo promissor no tratamento do diabetes tipo 1. A nova abordagem utiliza células-tronco pluripotentes para gerar células produtoras de insulina, com o objetivo de substituir aquelas destruídas pelo sistema imunológico. Em fase inicial, o tratamento foi testado em 14 pacientes, dos quais dez conseguiram suspender o uso de insulina por um ano. Foto: Divulgação/Governo de SP
A pesquisa ainda é experimental, mas reacende a esperança de um futuro com menos dependência de aplicações diárias de insulina — realidade enfrentada atualmente por milhões de pessoas com diabetes tipo 1, uma doença autoimune que costuma se manifestar ainda na infância ou adolescência.
A endocrinologista Maria Elizabeth Rossi, chefe do Laboratório de Investigação Médica (LIM) da Faculdade de Medicina da USP, explicou que o diabetes tipo 1 ocorre quando o sistema imunológico ataca as células do pâncreas responsáveis por produzir insulina. A terapia inovadora consiste em transformar células-tronco de doadores em laboratório, convertendo-as em células produtoras de insulina e, em seguida, injetando-as no fígado do paciente por meio da veia porta.
Para que o tratamento tenha sucesso, os pacientes precisam usar imunossupressores, que evitam a rejeição das células implantadas. No entanto, a especialista alerta que, apesar dos resultados iniciais positivos, ainda é cedo para comemorar. O estudo tem apenas um ano de duração e o custo do procedimento ainda é elevado, o que inviabiliza sua aplicação em larga escala por enquanto.
Além dessa abordagem, outras frentes de pesquisa também avançam no combate ao diabetes tipo 1, como o uso de medicamentos imunossupressores capazes de retardar o surgimento da doença em pessoas com predisposição genética. Outra alternativa promissora é a edição genética de células beta, tornando-as “invisíveis” ao sistema imunológico, tecnologia que foi recentemente apresentada em um congresso internacional.
O transplante de ilhotas pancreáticas, já testado em diversas ocasiões, também continua sendo uma linha de investigação relevante.
Para a professora Maria Elizabeth, o futuro do combate ao diabetes tipo 1 está na prevenção precoce. “Talvez o importante seja a gente conseguir tratar o paciente antes de desenvolver o diabetes, numa condição que ele ainda tem células produtoras de insulina”, afirma. Ela destaca ainda o avanço de tecnologias como bombas de infusão e sensores contínuos de glicose, que já transformaram a qualidade de vida dos pacientes.
“Mudou o cenário, o horizonte dos nossos pacientes com diabetes tipo 1. Agora é hora de focar na prevenção. E, com certeza, futuramente, teremos excelentes resultados”, conclui a especialista.